sexta-feira, outubro 25, 2002

Requiem por uma empresa

Se as mais recentes noticias estiverem correctas, estaremos a poucos dias de um abortivo funeral. Um nado-morto, com mais de 400 pessoas no seu seio irá falecer vitimada pelos anseios dos seus accionistas de parecerem "meninos bonitos" na Bolsa. A lógica do negócio que se consolida lentamente está a ser deturpada por uma regra que serviu para tudo, até para a GRANDE CRISE do sector na América: a vontade de mostrar contas bonitas aos detentores de acções e aos analistas faz com que os gestores pensem a curto prazo e não a longo prazo. E não estou a falar dos gestores da Oniway mas sim aos da EDP. Lembrem-se que na altura em que foi lançado o GSM os analistas também diziam algumas barbaridades sobre o potencial da coisa...

Mas se entendem que é melhor afastarem-se (e o Ministro da Economia até quis ajudar) lembrem-se que estão a perder o comboio do futuro e a cingirem-se ao mercado de rede fixa... E mais não dá vontade de dizer. Apenas uma palavra para os funcionários, que estiveram a criar algo de bonito e que verão as portas da rua abrirem-se e os consumidores.

Esses, e mais uma vez me repito, ninguém os defende. Algum dos analistas que já se debruçou sobre a perspectiva de consolidação do sector móvel pensou que se em Portugal ficarmos com apenas duas redes - e mesmo tal como estamos, quem fica a perder é o consumidor?

Uma empresa entra no mercado porque acha que é uma oportunidade. Os concorrentes deveriam aceitar essa entrada e lutar com as armas minimamente éticas. Não me digam que quem quer a Oniway fora do mercado defende os consumidorees desse sector, porque essa eu não compro...

Mas nem só de más noticias está o mercado. Em relação à sociedade de informação, louve-se o Conselho de Ministros do passado Sábado que finalmente nos proporcionou uma alegria sobre a coordenação existente para a área. Finalmente resolvida a questão central do comando, ficaremos curiosos sobre a vitalidade de Diogo Vasconcelos, o indigitado presidente da unidade de missão para resistir a potenciais cortes orçamentais e fazer com que o Governo esteja online, tem mentalidade de online e avance decididamente nesta área. A Democracia electrónica avança em pequenos passos.

sexta-feira, outubro 18, 2002

Publicidades

Há um conjunto de perguntas óbvias que qualquer colunista deverá fazer ao seu público, ainda para mais se pretende escrever sobre o sentimento das pessoas em relação à economia. Será que a crise está a afectar os bolsos da classe média ou é apenas um fantasma?
As perguntas são várias. Qual é o seu sentimento? Estamos em crise? Estamos bem? Acha que as expectativas é que formam a sua opinião ou baseia-se em factos concretos? O estudo científico da vontade dos cidadãos daria, sem dúvida, matéria bastante para os “marketeiros” das nossas empresas. É que é pela base - saber a razão pela qual o “consumidor” adquire ou não o “meu” produto - que se poderá direccionar as campanhas, as promoções, e outras ferramentas com que se tenta o objectivo último de cada empresa: vender mais.

Mas será que tudo é possível de ser medido? Será que os factores instintivos - a publicidade é amarela, gosto da marca, é a que escolhe a minha namorada, etc - não desvirtuam a capacidade em analisar cientificamente as vendas?

Refiro-me a isto por uma mera opinião pessoal. Eu não tentaria denegrir o “produto” para vender a minha solução específica. Acho que essa estratégia poderia levar a efeitos perversos: talvez haja menos pessoas a ter uma opinião positiva em relação ao produto, talvez acontecesse que no processo de decisão as pessoas se lembrassem das críticas feitas ao mesmo e ainda, o que seria grave, as afirmações produzidas fizessem com que certas pessoas a quem já o vendi se lembrassem de me questionar acerca da qualidade daquilo que lhes vendi.

Qualquer semelhança com publicidades recentes na área é pura coincidência... É claro que me estou a referir à publicidade ao produto ADSL feita pela NovisNet que lembre que 70 por cento da pornografia é vista em horário laboral. E também lembram aos gestores que as pessoas sérias que estão a trabalhar podem estar a consulta a sua conta bancária, a ir às compras ou a jogar num qualquer casino.

Será que este tipo de publicidade leva o gestor a decidir-se pelo produto da empresa ou, antes a decidir-se por nenhum produto? Ou a comentar numa qualquer reunião que a Internet é aquela coisa “que só faz perder tempo” e ser “pouco produtivo”?

Acho que o “briefing” desta publicidade sofreu de “humorite aguda” e destruiu aquilo que, de bom, alguns dos outros promocionais da marca tinham conseguido para a mudança de mentalidade.

sexta-feira, outubro 11, 2002

A novela

Uma das grandes vantages de ser colunista de um órgão de comunicação social especializado prende-se com o evitar de escrever sobre aqueles acontecimentos curiosos, tipo novelas, que nunca mais terminam e que enredam cada vez mais os seus intervinientes, de cada vez que os assuntos são comentados. Safei-me, neste Verão, a comentar o caso Portas, o BB Famosos, a novela Jardel entre outros assuntos que passaram as "marcas" em termos de acontecimentos, com cenas caricatas de parte a parte.

Bem, isso pensava eu! Esqueci-me de um assunto-novela que dá pelo nome de "Interligação". A trama é interessante para engenheiros e advogados: coloca frente a frente conceitos tão díspares como operadores virtuais, redes UMTS, actos administrativos, entidades reguladoras que pouco regulam e empresas que juram estar a defender os consumidores.

Claro que os actores não são dos mais conhecidos e têm nomes esquisitos, cheios de siglas: ANACOM, Optimus, Vodafone, Oniway e, num papel secundário, a TMN. Pelo meio, alguns actores já sairam, outros tiveram que alterar a sua postura, e o imbróglio continua.

Os consumidores não tidos nem achados. E arriscamo-nos, se a novela continua, a manter uma política de preços móveis altos, sem concorrência à altura... Esperamos para ver...

sexta-feira, outubro 04, 2002

E-democracia

A semana passada foi fértil em eventos relacionados com a democracia electrónica, tendo culminado com algo de verdadeiramente sublime: as eleições brasileiras. Estou a escrever sem conhecer o resultado mas algo fica desde já como a maior vitória dessas eleições: todos votaram – bem, a votação é mesmo obrigatória – com uma urna electrónica!

Cada vez mais me convenço, por muitas conferências em tom pessimista que assista, que a e-democracia será uma inevitabilidade e que mudará a forma como se faz política. O perigo é que só mude uma das faces da "estória" e não todo o global da questão.
Quem me conhece sabe que defendo a apresentação da informação, quando oficial, de forma TOTAL. Não aceito e não acredito muito nas "falácias" de certos iluminados que referem, amiúde, nos seus discursos, que há certos documentos que não é necessário as pessoas ficarem a saber.

Um país que se quer moderno necessita destes tipo de ferramentas, deste tipo de actuação e os meios que a tecnologia lhe pode colocar ao dispor para isso são muito importantes. No entanto, há alguns entraves, especialmente a forma de financiamento destes modelos que é necessário rever e analisar de forma a obter uma verdadeira e-democracia sadia…

Não, não pode ser verdade. Sou contra a filosofia dos comunicados de imprensa que escondem a verdade da informação. Sou contra a não divulgação das matérias no seu estado bruto. E isso faz com que seja contra, da mesma forma, a forma como os meus colegas que fazem jornalismo online. Raramente tenho visto o aproveitamento das capacidades do online para dar aos cidadãos TODA a informação. E não só o escrutínio de alguém do qual não conheço as capacidades para decidir por mim.

Para a e-democracia ser uma realidade, é preciso que haja uma revolução de mentalidades, de aspectos culturais e da retirada do medo - sim, há pessoas que ainda consideram que não convém "refilar" porque o seu subsídio cai... ou poderão não ser seleccionados para o emprego da sua vida. Mas para a e-democracia ser uma realidade é necessário, como o Steven Clift confirmou, uma lógica de pequenos projectos, um amor à camisola enorme e uma crença muito grande nos princípios básicos da democracia, de acreditar que há pessoas que podem ter acesso a tudo e saber decidir com base em documentos globais.