sexta-feira, junho 28, 2002

Inconfundível dúvida

Há coisas que não são para perceber mesmo... Pelo menos é o que eu penso, quando leio certas notícias...

Expliquem-me por favor. Em vários jornais é referida a participação portuguesa na cimeira europeia para a área de telecomunicações e sociedade de informação, que aprovou uma pacote de medidas e que também avançou com o eEurope... Esta temática, esquecida por grande parte dos órgãos de comunicação social portugueses - especialmente na componente de análise sobre as suas consequências - tem tido uma importância pequena e restrita a poucos órgãos especializados, o que acho estranho derivado à real necessidade, achamos nós, de saber muito bem aquilo que se aprova lá fora para executar “cá dentro”...

Para além do destaque que lhe deveria ser dedicado, é de importância fundamental que as regiões e todos nós sem sintam capazes de ver aquilo que será possível fazer com este plano de acção. É que não estamos apenas a falar de temáticas relativas ao “gueto” digital. São assuntos tão importantes para o dia-a-dia das pessoas como as acessibilidades ou a educação. Exactamente porque se interligam. Acho que é um mero serviço público... falar sobre o assunto. E se a culpa é da comunicação social – e dos leitores, que querem ler é as tricas do futebol – os nossos governantes também não estão isentos de culpa.

Aquilo que não compreendo foi a representação portuguesa na tal cimeira. Mais concretamente, estiveram em Sevilha Dulce Franco e Valente de Oliveira. Se a primeira ainda se compreende, dado ter a pasta das telecomunicações no Ministério da Economia, já Valente de Oliveira parece um “corpo estranho” na engrenagem... Se há um Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro com essas competências, se também há um Ministro da Ciência com “algumas” das matérias mais interessante do plano de acção, qual é a lógica disto? Esperemos que este assunto fique resolvido rapidamente para que em Portugal se comece a ter mais literacia digital, rumo ao verdadeiro e-gov. Aqui, nesta coluna, tentarei dar a conhecer o verdadeiro Estado da Nação digital...

Mas as dúvidas também se colocam numa vertente muito mais prática do dia-a-dia dos portugueses. Em duas conversas com responsáveis de empresas fabricantes de hardware retive a velocidade avassaladora dos “ciclos de vida” dos produtos. Derivados dos avanços, é capaz de um modelo de computador, seja portátil ou não, apenas estar numa loja cerca de dois/três meses, sendo substituído pelo modelo mais recente... Imaginem agora a vossa dúvida mais profunda: compro ou não? Mas a verdade é que há uma resposta correcta no meio desta velocidade. Só comprem um computador quando precisarem dele...

jmo@esoterica.pt

sexta-feira, junho 14, 2002

A cor nos telemóveis

Estamos no advento de uma nova realidade no que concerne aos pequenos aparelhos que pendem das nossas mãos, bolsos e carteiras. Sim, o telemóvel está a mudar, de forma muito rápida e iremos sentir essa diferença já nos próximos dias - o que quer dizer que para o público em geral a mudança se sentirá no final do ano, princípios do próximo...

A lógica é simples: a introdução de novas "características" nos telemóveis é feita, por norma, nos telemóveis "premium", os topo de gama. Produtos que chegam ao mercado a 500/600 ou mais euros - acima da nossa antiga unidade cem contos... - e que depois, mercê da política de preços, campanhas ou políticas de fidelização, começam a co-existir com outros produtos, de preços mais baixos mas de igual potencial...
Isto sempre aconteceu mas haverá algo que o potenciará: três novas características, o GPRS, o MMS e os ecrãs a cores que vão existir em conjunto e educar a população para uma utilização, no mínimo, diferente, destes pequenos aparelhos.

Para quem usa computadores, sabe qual a grande vantagem de estar sempre ligado à Internet. Notícias actualizadas, serviços na ponta dos seus dedos, comunicação instantânea. O mesmo se aplicará aos telemóveis, que permitiram uma utilização multimédia, de forma simples e integrada. Actualmente já tinhamos PDA que podiam tirar fotografias mas que depois precisam de um outro módulo par as enviar para outro local. Agora isso já não é necessário... E milhentos outro serviços também poderão tirar partido destas características...

Estava com um colega meu a lembrar-me que o telemóvel - que até pode não ser uma grande miniatura - deverá ser como uma chave universal do futuro - servir para fazer pagamentos, como bilhete de cinema ou de parque de estacionamento, para comunicar e para trabalhar. Saber stocks, saber se tenho dinheiro para comprar uma determinada peça de roupa ou pura e simplemente para mandar uma mensagem multimédia para outras pessoas. Esse mundo novo não precisa de muito, porque as tecnologias-base estão já no mercado comercial: precisam de ser miniaturizadas, compactadas e postas à disposição, de forma lenta mas correcta, do público. É que este consegue ser ao mesmo tempo das entidades mais futuristas ou conservadoras - tudo depende da forma como são anunciados os produtos ou características...
Sabemos que estamos perto deste futuro. Aliás, ele já está a chegar... E por isso, quem gosa de estar na onda terá que o acompanhar...

sexta-feira, junho 07, 2002

O mercado está mau. pelo menos é o que todos dizem, desde o merceeiro ao inevitavelmente pessimista motorista de táxi - não que eu tenha nada contra a classe, que me conduz para todos os lados. Mas o sentimento de pessimismo continua a existir, quer em Portugal quer em grande da Europa e esse sintoma é pior quando estamos a falar do negócio das tecnologias das informação.

Uma das empresas conhecidas desta área, a KPNQwest entrou em ruptura no final da semana passada. Felizmente, a filial portuguesa, antiga Eunet está a fazer pela vida e o seu cash-flow positivo permite pensar em aguentar-se sozinha, estando mesmo a pensar voltar à antiga designação... é uma das poucas notícias agradáveis da semana e também tem um significado simbólico: é que foi a empresa que esteve na génese da Internet em Portugal. Quem é que, dessa altura, não se lembra do PUUG e da própria EUnet? Para quem esteve no início da Internet seria uma pena que actores tão importantes saissem do mercado...

Acredito que o mercado está mau mas não tão mau como o pintam. Um estudo da PWC Consulting, de grande categoria e do qual irei referir em próximas edições aponta os caminhos futuros para o sector das tecnologias de informação. Mas aquilo que eu acredito mesmo é que estamos numa fase de oportunidades.
Oportunidades essas que estão somente ao alcance de quem tem visão - não dos patos-bravos que costumam se seguir - e mesmo assim apenas do que tenham o cuidado dos mais previdentes.

As oportunidades passarão pelo Estado, que terá que se modernizar ferozmente - pelas novas tecnologias e seu modelo de negócio e pela banda larga, muito embora esta possa ser mais um mito, caso os serviços não sejam baseados num preço justo... Qualquer empresa terá que pensar em digital, qualquer entidade pública ou privada terá que pensar no seu cliente/utente.
Sem essa lógica, sem uma preparação futura para as novas tecnologias, a empresa estará condenada...

Para o cidadão comum, cada nova vaga tecnológica precisa de ser amadurecida e tratada. Também ouvi uma frase que me ficou na memória: é que para quem está tão envolvido nas novas tecnologias, como os gestores do meio e os jornalistas, as novidades não são tão novidades como isso. Mas para o cidadão comum, as novidades são verdadeiramente interessantes - só que nem tudo vale a pena e certos pormenores que por vezes são considerados fundamentais não interessam minimamente ao cidadão comum...

sábado, junho 01, 2002

Desabafos jornalísticos

Há dias em que dá um grande gozo ser jornalista. Outros em que sentimo-nos frustados por ter, do outro lado da linha, entidades que não compreendem que a nossa missão é informar e que todos os silêncios, mesmo que sejam “coerentes” segundo a opinião da empresa, não são correctos.
Há jornalistas e jornalistas. Bons e maus. Alguns éticos, outros nem por isso. O dia-a-dia do contacto com as fontes permite, mais do que um texto ou outro, que essa destrinça seja deslindada, de modo a que quer a empresa quer a jornalista saiba aquilo que podem contar... Aceito que as empresas, “usem” o silêncio.

Dada a lógica comercial de algumas das medidas, é natural que aquilo que se “pode” saber seja diferente daquilo que o jornalista está interessado em saber. Também aceito que certos colegas de profissão não sejam o mais correctos com certas empresas. Aliás, as fontes deveriam saber - ou as agências de comunicação deviam fazer o seu papel de consultoras - com quem estão a lidar e a melhor forma para isso...

De qualquer forma, aquilo que eu não entendo é a lógica de certas empresas que TUDO é segredo, que nada pode ser dito. E depois não aceitam os péssimos resultados das suas agências de comunicação. Que tentam, que tentam mas não conseguem...

O curioso é que com a Internet, basta um pouco de intuição, algum conhecimento das ferramentas ao dispôr e tempo para que um jornalista saiba coisas que o próprio empresário, ministro ou muitos outros interlocutores não sabem. E isso é algo de bom porque tira "o sagrado" que, no antigamente - na era antes da Internet - todos faziam de certas referências.

Nos tempos que correm, acho incrivel que certos jornalistas ainda se sujeitam a acreditar em terceiras fontes, quando está aos eu dispôr os verdadeiros objectos de análise jornalística. Um discurso de Bill Gates é tão fácil de encontrar como os resultados de uma empresa cotada ou uma explicação mais ou menos sumária de um determinado processo científico ou tecnológico.

Bem, basta de falar de jornalistas... O ministro José Luis Arnaut criticou publicamente uma parte do trabalho socialista na área da sociedade de informação, lembrando que os sites têm falta de estruturas transaccionais, e que é necessária uma mudança. Todos estamos de acordo que é preciso muito mais, como ainda há dias a Accenture confirmou...

Sugiro, é claro, ao ministro Arnaut que comece a mudar tudo. Ou então a reabrir alguns sites que estão em remodelação desde as eleições... Algo que não pode acontecer em democracia é a tentativa de guardar para si os números menos interessante e divulgar os outros. Os jornalistas que têm a Internet como a sua ferramenta e a verdade como princípio básico não perdoam.