Multimédia com necessidades
O mercado português do “multimédia” offline acordou esta semana de uma letargia que já se prolongava há meses. Bem, o mercado multimédia português que temos, é claro. Num mercado onde poucos apostam - o que só realça a actividade contínua da Porto Editora e do seu centro multimédia - e onde o CD-ROM para suporte de conteúdos interactivos já não se mostra actractivo para um consumidor que ainda não tem acesso em banda larga à Internet e que não está interessado em gastar alguns cêntimos em subscrições...
Um dos dois estudos que sairam esta semana sobre multimédia deixou algumas interrogações - ou ele foi mal dirigido ou os portugueses só consomem jogos no que concerne ao multimédia. Eu até acredito na segunda hipótese porque não acredito que quando se pergunta sobre uma marca de multimédia em portugal apareça em terceito lugar uma que já se extinguiu há mais de três anos...
As grandes casas do multimédia português são editoras ligadas ao segmento educativo. Nunca houve em Portugal um apoio forte e um incentivo - porque acho que poderiam existir capacidades - no maior mercado que existe, em termos multimédias: os jogos. Aqui, como em outros sectores, a pequenez do país é a resposta mais ouvida na profusão de justificações para o pouco investimento. A exemplo do cinema, as nossas actividades princípais são a legendagem, a adaptação para português e a distribuição...
Será que poderá ser de outro modo? Será que o multimédia português - online e offline - tem, efectivamente, futuro? Não sei. não quero transparecer algum pessimismo global mas as notícias mais recentes não me deixam pensar em futuros risonhos. Quando se fecham projectos com estabilidade e nome... Quando não temos determinados serviços e produtos numa língua que é a sexta mais falada do mundo...
Curiosamente a semana passada também ficou marcada pela entrega de prémios referentes ao Prémio Nacional Multimédia. Num jantar muito ao estilo "Hollywood", notou-se que a qualidade - on e off line - é algo que está intrínseco em termos de criatividade, inovação e opções técnicas/programáticas. Será que são apenas os meios económicos, o mercado, que nos condiciona?
Nos últimos meses foram realizadas, em CD-ROM, um conjunto de obras com grande valor para a área da literatura e multimédia. O futuro poderá ser interessante para coleccionadores, historiadores e outros grupos? E trabalhos para o cidadão comum? Para aquele que pretende apenas saber algo mais? Ou somos assim tão poucos?
Porque é que o mercado multimédia tem de ser à semelhança do sector do audiovisual e não igual ao da telefonia móvel? Gostava de desafiar os agentes do mercado a entrarem nesta grande debate.
jmo@esoterica.pt
João Manuel Oliveira é editor do suplemento de novas tecnologias da "A Capital"