sexta-feira, abril 26, 2002

Multimédia com necessidades

O mercado português do “multimédia” offline acordou esta semana de uma letargia que já se prolongava há meses. Bem, o mercado multimédia português que temos, é claro. Num mercado onde poucos apostam - o que só realça a actividade contínua da Porto Editora e do seu centro multimédia - e onde o CD-ROM para suporte de conteúdos interactivos já não se mostra actractivo para um consumidor que ainda não tem acesso em banda larga à Internet e que não está interessado em gastar alguns cêntimos em subscrições...

Um dos dois estudos que sairam esta semana sobre multimédia deixou algumas interrogações - ou ele foi mal dirigido ou os portugueses só consomem jogos no que concerne ao multimédia. Eu até acredito na segunda hipótese porque não acredito que quando se pergunta sobre uma marca de multimédia em portugal apareça em terceito lugar uma que já se extinguiu há mais de três anos...

As grandes casas do multimédia português são editoras ligadas ao segmento educativo. Nunca houve em Portugal um apoio forte e um incentivo - porque acho que poderiam existir capacidades - no maior mercado que existe, em termos multimédias: os jogos. Aqui, como em outros sectores, a pequenez do país é a resposta mais ouvida na profusão de justificações para o pouco investimento. A exemplo do cinema, as nossas actividades princípais são a legendagem, a adaptação para português e a distribuição...

Será que poderá ser de outro modo? Será que o multimédia português - online e offline - tem, efectivamente, futuro? Não sei. não quero transparecer algum pessimismo global mas as notícias mais recentes não me deixam pensar em futuros risonhos. Quando se fecham projectos com estabilidade e nome... Quando não temos determinados serviços e produtos numa língua que é a sexta mais falada do mundo...

Curiosamente a semana passada também ficou marcada pela entrega de prémios referentes ao Prémio Nacional Multimédia. Num jantar muito ao estilo "Hollywood", notou-se que a qualidade - on e off line - é algo que está intrínseco em termos de criatividade, inovação e opções técnicas/programáticas. Será que são apenas os meios económicos, o mercado, que nos condiciona?

Nos últimos meses foram realizadas, em CD-ROM, um conjunto de obras com grande valor para a área da literatura e multimédia. O futuro poderá ser interessante para coleccionadores, historiadores e outros grupos? E trabalhos para o cidadão comum? Para aquele que pretende apenas saber algo mais? Ou somos assim tão poucos?

Porque é que o mercado multimédia tem de ser à semelhança do sector do audiovisual e não igual ao da telefonia móvel? Gostava de desafiar os agentes do mercado a entrarem nesta grande debate.

jmo@esoterica.pt
João Manuel Oliveira é editor do suplemento de novas tecnologias da "A Capital"

sexta-feira, abril 19, 2002

Expectativas mínimas

Foi com todo o gosto e alguma alegria que acedi ao convite da minha colega Lídia Bulcão para escrever para o "Tribuna das Ilhas" sobre novas tecnologias. Sinto que a sociedade da informação e do conhecimento é a maior ajuda que os cidadãos dos Açores - e outros locais afectados pela insularidade - podem ter de modo a mitigar os problemas derivados das condicionantes espaciais. Se há sítio onde a administração pública electrónica é algo de primordial é em locais como os açores, onde perder tempo numa repartição pública ou fazer algum dos actos obrigatórios poderá implicar a perda de dias. Sempre que queiram, usem o meu e-mail para sugestões e opiniões sob a temática das novas tecnologias, Internet e "e-government".

Numa conversa de café, e quem não as tem(!) lembrei-me que, enquanto discutimos as necessidades para a área da sociedade de informação e do conhecimento, esquecemo-nos por vezes - e, infelizmente, a Administração Pública também - que o fundamental da tecnologia não são os “bytes” mas aquilo que poderemos fazer com ela. Uma verdade de La Palisse que parece contradizer a realidade. é que a mesma tecnologia que é usada para saber quem é o concorrente mais apreciado nos “Big Brothers” ainda não serviu - nem ouvi nenhum autarca lembrar-se dessa possibilidade - para auscultar os cidadãos deste país ou de qualquer concelho sobre as opções de um problema local, ou para informar sobre determinada solução da administração pública. Meus senhores, usem a vossa imaginação... e a tecnologia!

Em relação aos novos ministros e secretários de Estado, lembrei-me também das circunstâncias iniciais, na campanha eleitoral do PSD. Tudo começou num hotel de Lisboa. Cerca de trezentas personalidades dos vários quadrantes do sector das tecnologias de informação, inovação e ciência estavam presentes num seminário organizado pelo PSD. Desde os desiludidos ou ressabiados do “marianismo” aos que advogam uma maior participação das empresas privadas na economia digital, todos parecem ter gostado do discurso de Durão Barroso. Criteriosamente, a política desenhada no seu discurso parecia satisfazer o melhor de dois mundos: continuar o (muito) que de bom foi feito por Mariano Gago e aumentar e melhorar a política tecnológica. Para isso, Durão Barroso definia claramente a sua estratégia e integrava a sociedade de informação no seu domínio político.

Desde esse dia até hoje, passou pouco mais de um mês e meio. Conhecido o Ministro da Ciência e Ensino Superior - até a tecnologia caiu - as dúvidas instalam-se entre os actores do sector. Claramente, venceu a lógica do ensino superior e apenas um secretário de Estado, que não deslumbra nenhum dos "actores" deste sector...

Continuar o que de bom se fez na Ciência e Tecnologia e melhorar a política tecnológica é essencial. Saber se um ministro que já não tem desculpa para não conhecer o “@” digital mas que parece estar mais preocupado com os gastos do Ensino Superior poderá conseguir isso e dar um novo impulso à Sociedade de Informação, é outra coisa. O mais estranho é colocar de lado, de forma clara, quem optou por ajudar e escolher baseado numa lógica de amizade. Quem se interessa pela Sociedade de Informação vai continuar na expectativa. Sabendo que não quer perder aquilo que conquistou...

jmo@esoterica.pt
João Manuel Oliveira é editor do suplemento de novas tecnologias da "A Capital"